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sábado, 17 de agosto de 2013

Ensaio sobre o futebol às 22h

Jornalista resume a magia dos estádios
Por Alessandro Lefevre

A questão do horário dos jogos é antiga. Partidas às 22h são realmente absurdas.

Primeiro porque não tem transporte público decente depois da 0h07 (horário em que fecha boa parte das estações de metrô de São Paulo, por exemplo). Os torcedores precisam sair correndo! E não rola fazer baldeação.

Segundo: o horário comercial (das 9h às 18h) exige que --ao menos nas capitais-- o cidadão levante duas horas antes de chegar ao trabalho. Façamos uma reflexão. O cara sai do trabalho às 18h. Toma uma breja e vai ao jogo. Chega em casa 1h da matina. E precisa levantar no outro dia às 7h. Não dá para fazer isso toda hora, né?!

Só que tem outros pontos:

1) Os preços dos ingressos subiram. Há uma clara elitização dos estádios. Pagar R$ 40 ao menos uma vez por semana é pesado.
2) Flanelinha! Se você não tem transporte público de qualidade e resolve ir de carro, tem que deixar R$ 15, R$ 20 ou até R$ 50 --dependendo da importância do jogo-- para que 'cuidem' do seu automóvel.
3) Preços abusivos dentro das arenas: da água ao cachorro-quente, passando, claro, pela cerveja sem álcool.
4) Pay-per-view: sai mais barato fechar o pacote do PPV do que ir ao estádio. Sai mais barato comprar cerveja no supermercado do que do ambulante na porta do estádio. Você não gasta com condução. É evidente que não é a mesma coisa, não tem a mesma emoção/adrenalina, mas tem muita gente que prefere o conforto do lar.

Outro lado
Segundo reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, no dia 6 de agosto de 2013, "os estádios inaugurados recentemente no Brasil, a maioria para a Copa-2014, estão recebendo público que se compara aos principais torneios de futebol da Europa. Seis deles estão sendo utilizados na Série A do Brasileiro --juntos, têm até a 11ª rodada da competição uma média de 27,7 mil pagantes, segundo levantamento feito pela consultoria BDO Brazil. Esse número é menor apenas do que os registrados na Bundesliga, na Alemanha (42 mil), na Premier League, na Inglaterra (35 mil), e no Campeonato Espanhol, com 28 mil --dados da temporada 2012/2013, de acordo com dados dos sites dessas ligas."

Ou seja, embora haja uma mudança óbvia de público nas novas arenas, também é verdade que essa turma com mais grana --se perceber que houve uma melhora significativa no produto futebol-- também comparece em peso. Se isso é bom ou ruim fica para outro devaneio.

Resumão
Ao menos neste primeiro momento, não há uma perspectiva de mudança de horário dos jogos às quartas-feiras. O buraco é mais embaixo e bastante nebuloso. Para que houvesse uma alteração, os torcedores precisariam exigir dos clubes uma postura mais firme na hora de vender os direitos de transmissão. Só que, geralmente, o dinheiro fala mais alto.

Bom... Depois de toda essa tese, você pergunta: então não vale a pena ir ao estádio? Vale! Vale muito!!!

Para isso recorro ao colega uruguaio Eduardo Galeano. Embora o jornalista tenha sobrenome de perna-de-pau, é craque com as palavras. Ver um gol do seu time de coração no estádio sempre --SEMPRE-- será melhor do que ao vivo e a cores.

"O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol é cada vez menos frequente na vida moderna. Há meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0, duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem tempo para fazer nenhum.

O entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre gooooooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para o espaço."

Um comentário:

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